Tinha
começado há pouco tempo a época de Natal. Era, mais precisamente, dia cinco de
dezembro e eu, o meu tio e a minha prima, resolvemos montar a árvore e o
presépio com todas as suas figurinhas, mas faltava algo para que tudo parecesse
mais real e menos forçado: o musgo. O musgo era o elemento verde que faltava ao
deslavado chão castanho da casa do meu tio.
Fomos
apanhar as tais plantinhas representantes do grupo das briófitas ao Monte
Crasto, em S. Cosme, Gondomar. Quando lá chegamos, pude respirar o ar puro que
a vegetação oferecia e deparei-me com um imenso espaço verde. Era possível ver
várias casas muito longe. À medida que íamos avançando na nossa pesquisa pelo
musgo, deixamos de conseguir ver as casas e começamos a avistar o que parecia
ser um pavilhão abandonado no meio do Monte. Tive curiosidade de saber o que lá
havia, mas, quando pedi ao meu tio para ir ver, ele não deixou e, a partir
desse momento, não mais tirou os olhos de mim.
A minha
teimosia falou mais alto do que as palavras de quem me acompanhava e aproveitei
uma pequena distração do meu tio e da minha prima para dar uma corrida até ao
pavilhão que me tinha cativado.
Quando
estava a chegar à porta, deparei-me com uma luz muito forte que me cegou por
breves segundos. Mal consegui voltar a ver alguma coisa, tive a sensação que
andava num mundo muito diferente daquele cuja realidade eu conhecia.
Na
entrada existia uma grande placa que dizia “O Mundo Que Ninguém Conhece” e,
realmente, eu pouco conhecia do meu mundo, mas daquele que conseguia ver ainda
conhecia menos. A primeira coisa em que reparei foi numa árvore de Natal que
chegava ao teto, muito iluminada e bem enfeitada. A seguir, vi as pessoas que
lá estavam: eram muito baixinhas e andavam todas vestidas de vermelho, tinham
um chapéu com uma bolinha peluda na ponta e os sapatos eram pontiagudos.
Inicialmente, achei que eram duendes e que andavam a ajudar o Pai Natal, mas
depois de apreciar melhor o que faziam percebi que andavam a arrumar objetos em
prateleiras. Como não entendi bem o que faziam, resolvi perguntar:
- Olá!
Desculpe, será que me pode ajudar a perceber o que está a acontecer neste sítio
e o que está a fazer?
- Olá,
nós somos Mini Pais Natais e estamos a realizar desejos de quem escreveu ao
nosso amigo e patrão, o senhor Pai Natal. O desejo do dono deste armazém que
monta e vende maquinaria, para além de trabalhar o ouro que é das, se não a
principal atividade desta freguesia, era que fizéssemos algumas remodelações e
que melhorássemos o espaço onde os seus colaboradores exercem a sua atividade.
- Mas
este ramo não devia ser dos mais bem pagos? Desculpe lá a minha ignorância…
- Sim,
quer dizer, talvez no seu mundo seja um setor bem pago e onde não são
necessárias ajudas deste tipo – afirmou, sorrindo, aquele pequeno Pai Natal – ,
mas aqui, no mundo das miniaturas, é um dos setores que menos ganha e prova
disso é que todos os funcionários desta pequena empresa, que constituem uma
família muito numerosa, estão a dormir numa sala aqui ao lado que foi adaptada
com algumas camas e colchões para assegurar que podiam, pelo menos, descansar.
Outra coisa que não deve saber é que, apesar de as pessoas não darem muita
importância ao trabalho deles, aqui se fazem autênticas relíquias que custam
muitos abraços e beijos.
- Será
que posso ver algumas dessas peças tão maravilhosas? – perguntei eu, curiosa.
- Isto
que vou fazer não é permitido, mas venha comigo, eu mostro-lhe.
Abriu
uma porta que dava para outra grande sala e lá tudo reluzia.
- Por
exemplo, este coração aqui vale dois mil e quinhentos abraços e três mil
beijos.
- Nunca
imaginei que fossem assim tantos abraços e beijos. A quem é que as pessoas
pagam?
- Os
pagamentos são distribuídos pelos funcionários: é contabilizado o que a pessoa
tem de pagar e divide-se pelo número de funcionários que fizeram a peça.
- Muito
obrigada por me ajudar a perceber um bocadinho do que se passa neste sítio que
encontrei por acaso. Fico-lhe muito agradecida, mas agora tenho de voltar para
casa. Prometo que farei publicidade a este espaço e que cá voltarei com os meus
pais, para comprar algumas peças.
- Tenho
muita pena em dizer-lhe isto, mas tudo não vai passar de um sonho próprio desta
época. Quando acordar, vai perguntar-se como é possível tudo ter parecido tão
real.
Na
verdade, depois de ter ouvido o que a pequena figura me disse, acordei
sobressaltada e, tal como me tinha dito, tudo não tinha sido mais do que um
sonho, mera imaginação do meu subconsciente que, ao acordar, se apercebeu que a
casa do meu tio já estava enfeitada.
Escalão D - Ana
Conceição Ribeiro (Agrupamento de Escolas Carolina Michaelis, Porto)
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